sorriso besta . cabelo ao vento . pés descalços . abraço apertado

quarta-feira, setembro 30, 2009

*O ENCANTO DE ELISA*

O relógio marcando os segundos, uma canção toca na rádio e a gaveta da cômoda aberta.
“Ah, se o tempo parasse agora e eu pudesse dançar com você essa canção que toca”, pensou ela.

O relógio marca 17 horas e 30 minutos.
A canção é Menininha do Portão.
A gaveta ainda está aberta.

Ela sai pela rua a fim de esquecer a canção que fez, certa vez, o tempo parar – tempo que durou apenas alguns segundos. Atravessa a rua e, com o pensamento longe segue caminhando pela calçada até chegar na beira da praia. Senta no banquinho de cimento e encontra um livro que descansa ali, do lado dela. Abre o livro e lê

‘Uma chuva de bolinhas coloridas se espalham pelo chão e enche o mundo de encanto...’

Ela fecha o livro, bebe um gole d’água e segue caminhando para esquecer aquela canção que não sai do seu pensamento. De repente ela pára no meio da calçada e, ali, em pé, em meio às pessoas que transitam, abre o livro e continua a ler

‘Uma chuva de bolinhas coloridas se espalham pelo chão e enche o mundo de encanto, mas não encanta Elisa...’

Novamente ela fecha o livro e continua a andar até pisar na areia do mar. Então ela senta de frente para o mar, abre o livro e, mais uma vez tenta ler todo o parágrafo

‘Uma chuva de bolinhas coloridas se espalham pelo chão e enche o mundo de encanto, mas não encanta Elisa. A chuva encanta João, Laís, Tiago, Renata, Ana e ...’

Ela se põe de pé, lembra daquela canção e caminha devagar e tanto até encontrar um banquinho de madeira no fim da praia. Sentada nesse banquinho, de frente para o mar, ela abre o livro; mas um rangido que surge do banquinho de madeira teima em querer fazer fundo musical enquanto ela inutilmente tenta ler. Sem sucesso na leitura, ela fecha o livro, observa a paisagem – areia, mar, árvore, crianças que brincam de bola, crianças que soltam pipa com seus pais, pessoas tomando sol, duas pessoas que jogam frescobol, um quiosque e o fim da tarde – e escuta o rangido fazendo fundo musical e, mais uma vez ela se lembra da canção que fez parar o tempo certa vez. Um leve sorriso surge em seus lábios. Ela abre o livro suavemente e lê

‘Uma chuva de bolinhas coloridas se espalham pelo chão e enche o mundo de encanto, mas não encanta Elisa. A chuva encanta João, Laís, Tiago, Renata, Ana e, encanta o mundo. Chove tanto e tanto que inunda a casa e enche de encanto a vida de Elisa.’

Nesse momento um vento leve sopra; ela sente o frescor e percebe que o vento soprou e fez virar a página. Ela fecha o livro, repousa-o no banquinho, se levanta e segue até a beira do mar, toca o mar com os pés e lembra daquela canção. Assim, com os pés molhados de água salgada do mar, ela volta pra casa. Encontra a gaveta da cômoda aberta, olha dentro, pega uma folha de papel empoeirada, contida de palavras escritas e se põe a ler; percebe que é outra canção. Ela olha para o relógio.

O relógio marca 19 horas e 50 minutos.
A canção é Num Dia.
A gaveta ainda está aberta.

Olha pela janela. Havia escurecido. Sacode para tirar a poeira a folha de papel com a letra da canção, coloca dentro da gaveta da cômoda, fecha a gaveta e, de repente, começa a chover e ela se deita para esquecer e dormir.
Quando acorda já é dia claro.
Ela esfrega os olhos, se espreguiça e uma só é a canção que agora teima em não sair do seu pensamento... Num Dia.




[Coisas essas que pelo caminhar constante a gente inspira e expira!]


Eu vou, mas eu volto... *estrela*

quarta-feira, setembro 23, 2009

*PARA CHOVER UM RAIO DE SOL*

"Ah, como os mais simples dos homens são doentes e confusos e estúpidos ao pé da clara simplicidade e saúde em existir das árvores e das plantas!"
[Alberto Caeiro]


Transgredir a monotonia para haver beleza e contemplação é deixar de lado a mediocridade e aproveitar cada ideia - absurda ou mesmo estapafúrdia; é deixar que a brisa rasgue a vergonha de sermos nós mesmos e escancararmos na janela do quarto o raio de sol que ilumina nossas mentes.


_ será que, de repente, acabaram as palavras, os pensamentos, os segredos?
_ tudo o que se tem é um breve adormecer!


"[...] A alma, no seu lugar mais profundo, é uma cena de felicidade. Viver é sair por aí, ou procurando a cena feliz ou tentando construir a cena feliz. [...]"
[O amor que acende a lua - Rubem Alves]

Eu vou, mas eu volto... *estrela*